quarta-feira, 12 de maio de 2010

Do amor que não chega - 12/05/10

Tornei-me um Otelo,
Um Bentinho, em plena era do descarte total e da exposição em que vivemos.
Um “clic”, uma ligação, um “torpedo” e pronto! As dúvidas febris estão concretizadas em certeza.
Facilidades demais no atacado do sexo.
O amor não se encontra mais; nem no varejo.

Eu invoquei a chegada de um amor nobre.
Indiquei sua entrada por sobre um tapete vermelho,
Mas ele achou que poderia desfilar sobre meu orgulho, sobre o meu respeito.

Este amor tinha a permissão de entronar-se em minha sala principal,
Mas não sentar-se em meu brio, em minha “imago mundi”.

Ele deveria respeitar os meus livros e as palavras doces que estavam reservadas para se concretizarem num poema,
Mas não.
Desdenhou meu conhecimento, dopou-me com absurda estupidez e QUASE cegou-me com sua ignorância.
Continua, esse amor, a não saber me ler?

Ouvi suas promessas proféticas,
Suas austeridades em nome de um amor,
Seu sorriso incompleto, sua prematuridade.
Adicionei-os ao meu cotidiano de terra e o transformei em ar.
Fora do chão, sem asa – pobre humano inabilidoso que sou – perdi o total controle e flutuei veloz e louco feito mariposa recém nascida.

Tragicomédia horrorosa e miserável todas essas tentativas.

Procurei por ele nos sebos da cidade,
Nas salas escuras, tentei senti-lo,
Nos balneários, nos cadastros, nas listas...
Encontrei-o.
Acreditei nisso, mas era um engodo – fábula da raposa que perdera alguns pelos, mas NUNCA os vícios.

E eu que havia aprendido a dissecar minha própria carne,
Segmentei-me em filets,
Descartei todas as sobras, ossos, gorduras, nervos
E me compus da melhor peça para seu desfrute.

Ofereci-me tal carne com seu único valor num balcão de açougue em feira livre.

E ele que não aprendeu nada, senão a prática da reação à investida da verdade e do amor,
Fugiu de medo, atormentado pela possibilidade de viver o uno – já que é duo.
Lançou-se de volta à sua caverna, de onde vislumbra o mundo,
Mas não interfere em nada.
Ele poderia, mas não faz, porque entende que é minúsculo demais,
Quando o que produz é menor ainda.

Adriano Gustavo di Andrade