quinta-feira, 30 de julho de 2009

Sua história cabe num marcador de páginas!

Sua história cabe num marcador de páginas!
É ínfima
É o ferrão de uma abelha operária
É a cinza de um sulfite incinerado.

Triste concluir que seus dias, teu repertório
Não resultou além dessa filipeta, cujo uso não me acrescenta nada,
Mas organiza o livro sobre o qual me debruço,
Para lembrar dos tempos que antecederam sua aparição.

Minúscula, porque recheada de milhões de trocas sexuais,
De servicialismo, de mentiras, de entorpecimento macabro...
A tua história poderia ser um enredo,
mas é menos que um mote sobre o qual escrevem os bêbados,
quando mijam no chão que se pisa.

Embora foram incontáveis aqueles com quem você deitou,
Apesar da procissão de vítimas a quem você sofismou,
Ainda que inúmeras vantagens arrancara de mim e deles,
Tua vida não é nada, pois ela se resume em 4 letras:
AMOR...
ÓDIO...
SEXO...

Temas que dariam um roteiro magnífico,
Não fosse o protagonista da exibição um sujeito púlia.

Ainda te acerto, enquanto você sobrevoa o centro da minha vida
Viverá da seiva parca do Mandacaru e dos ovos das cobras.

Adriano Gustavo di Andrade

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Pois é! 23/07/09

Estou me amando tanto, que ouvi suas músicas, é... aquelas que me remetem diretamente a você e dancei, alegremente.
As lágrimas anteriores, derramadas por desespero, já fizeram nascer uma nova planta em meu jardim. É a primeira, mas é a mãe das milhares que virão depois, denunciando a vida dentro de mim.
Comecei a falar tanto... a encontrar-me com tantas pessoas... a sentir tantos novos cheiros... a abraçar a verdade em meus amigos, que decidi: foi MARAVILHOSA a sua ida.
A Legião estrangeira de Lispector pegou-me de surpresa. Não sei definir o porquê dessa alegria e desse contentamento.
Esses moradores em meu ser estão sustentando cada pilar do meu palácio interior, tornando-me suserano-mor de uma sociedade possível, mas inexistente.
E a cada suspiro, tal qual uma dose analgésica cavalar, que sinto, desejo estar cada vez mais longe de você.

Adriano Gustavo di Andrade

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Temos que aprender isso 20/07/2009

Goela abaixo, enfiam-nos quilotons de mágoas, excrementos e injúria.

Escorre-nos uma única lágrima pela maçã do rosto.
Uma maçã que não participou do pecado da criação, embora põe-nos vermelhos em aço,
diante de uma escravidão, cuja liberdade é farta,
mas que não se pode sair...adictos eternos.

Neste ciclo de horror, há protagonistas encenando.
Um deles exibe uma face linda, um andar calmo e uma voz esguia.
O outro é a imagem do peso:
São baixos os seus olhos, tortos os lábios e travados os dentes.

Fúria...

Esgotado de um subjulgo aromático e sedoso,
Mandei-lhe voltar para a caverna que o pariu
A dar com os juízos aos morcegos
E ler nas pedras o seu futuro que não passa de uma substância fria e inóspita.

Adriano Gustavo di Andrade

sábado, 18 de julho de 2009

UM favor 18/07/09

Passava de meia noite, quando minha mãe abriu a porta de nosso apartamento.
A campainha já tinha tocado diversas vezes, em poucos segundos. Ela, sem entender, precipitou-se a atender.
Era nosso vizinho do 4° andar. O rapaz, nervoso e com vergonha, tentou gesticular o seu pedido. No entanto, a comunicação humana está vazia: não há sinais, sons ou palavras que consigam remendar as lacunas criadas entre o nosso espírito.
Minha mãe fez sinal de que iria chamar algum vizinho. O rapaz, angustiado, virou as costas, quando minha mãe o impediu e, com suas mãos e lábios (débeis ao que se propunha) tentou dizer-lhe se conseguia escrever o que precisava.
Já na cozinha, um tanto trêmulo e com os olhos perdidos, pegou a caneta e um papel, onde escreveu:
"Por favor, um pão"
Minha mãe, sem palavras - estas seriam inúteis - abriu o armário e, mecanicamente, entregou-lhe o que tinha sido pedido.

Fundo de cena I:
Esse rapaz tem deficiência auditiva, potanto não fala nem escuta. Sua família viajou, deixando-o sozinho, não por irresponsabilidade - talvez, não posso julgar esse ponto - mas porque ele trabalha e não estava em época de férias.
Acredito que minha casa foi indicada por sua mãe, caso ele precisasse de algo. Assim, foi lá que ele foi diante dessa necessidade básica a que fomos condenados...
Imaginem as necessidades dele!

Fundo de cena II:
Eu não tinha sentido vontade de escrever sobre esse tema, até que hoje, enquanto realizava minhas orãções, abria a gaveta do meu oratório e encontri o papel, onde ele tinha feito sua súplica.
Senti-me, profundamente comovido e mais uma cônscio de nossa realidade:
Sinto pena da raça humana.

Adriano Gustavo di Andrade

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Um sonho I 17/07/2009

Era um campo de luz amarela, flores mortas e trigos que me cortavam a pele.

Corríamos por essa paisagem,
quando você me tomou o braço,
apertou meu pulso e passou a me rodopiar.

Eu sorria, mas não entendia nada.
Sua expressão não me revelava cisa alguma - dúvida!

Meu espírito, tentado por uma profecia, empurrava-me
Abismo abaixo queda livre desespero...
Ao notar, estava massacrado num chão mais duro que já realizei e,
Você me olhou com a doçura de uma tulipa, rogando por não ser arrancada.

Disse-me:

- Cuidado comigo!

Acordei suado, triste e sozinho.

Adriano Gustavo di Andrade

segunda-feira, 13 de julho de 2009

O que escondem estes rostos? 13/07/09

O que escondem estes rostos
Que passam por mim, nas ruas, nas casas, nos lugares todos?

Que crime oculto disfarça este seu olhar de anjo branco e cabelos limpos?
Que exaustão esta tentativa de decifrar coisa tão por trás!
Por que insisto nesta busca insólita,
Como um tecelão tenta arrancar seda de uma mosca.

Fora daqui!
Para trás esta invasão que se mascara de forte,
Mas que não passa de um caniço afogado numa enchente em Bangladesh.

E eu?
O que sou, portanto?
Assumirei a dimensão que eu quiser e não a que os embriagados de caos me obrigam.

No meio desses rostos, desses disfarces, desses sofismas todos.
Tenho que ser mais um - porque assim impera a vida...
Mas controlarei com os pés firmes a rocha que tenta me lançar
Montanha abaixo.

E quando você me olhar novamente,
Não tomarei outro caminho, senão, o da continuidade do meu brilho vital e limpo.

Cristalizo-me!


Adriano Gustavo di Andrade