quarta-feira, 27 de outubro de 2010

comer rezar amar - 27-10-2010

Dos três verbos que compõem o titulo do romance best seller adaptado para o cinema, o de mais originalidade básica, de caráter inicial - pelo menos no plano carnal - é COMER. Sim, somos alimentados desde a gestação e passamos a comer até os últimos dias.
Certo dia senti uma tristeza inexplicável ao ver centenas de pessoas num supermercado, lotando os seus carrinhos (não vou entrar no mérito do saudável ou não), pagando valores altíssimos ou nem tanto assim pra pagar. Enfim, é uma condenação. Mas, falemos do prazer, na obra, o que é levado em conta é o prazer das delícias e das sensações que as ervas, temperos, especiarias causam ao nosso corpo após agirem no sistema límbico.
Seguindo a sequencia hierárquica, vem rezar. Engana-se quem pensa que amar é prioritário. Não arredo minha convicção de que o amor é aprendido e, para tanto, precisa passar pelo aprendizado do espírito, da fé. Pois bem. Rezar: saí do cinema com uma vontade enorme de recitar mantras. Sou de formação budista e, portanto, cultivo a parte espiritual, de um alcance que vaza o infringido terreno. Gosto de mais. Algo além das palavras, mas dentro delas ao mesmo tempo com sua substância e valor onírico. Pelo verbo quero atingir as esferas do que Deus representa e nos foi ensinado, mas com um adendo, sempre o encontro em mim.
Amar. Amar é espetáculo e mistura, mas também é poesia, analgésico e ilusão necessária. Amo também. Sempre iremos amar. Ou, ao menos nomear o caos de um determinado sentir, de amor.
Essas impressões me vieram à superfície do pensamento, quando deixei a sala de projeção, onde havia me deliciado com a atuação deliciosa de J. Roberts; do bonito e sensível brasileiro vivido por J. Barden; pelas canções brasileiras de Bebel Gilberto (povo brasileiro pouco conhece) e João Gilberto; dos cenários encantadores da Itália; do caos necessário na Índia e, fechando com a beleza natural que nos subjulga em Bali.
Obra de arte completa e cíclica. Não consigo ficar incólume a isso.

Adriano Gustavo di Andrade

domingo, 10 de outubro de 2010

Escrevo porque minhas palavras assexuadas te excitam mais do que minha voz, meu afago, meu beijo, meu falo...
Escrevo, ainda, por vaidade pura.
E porque sei que, estando preso por esses verbos, será fácil possuir-te, quando sentir o vapor quente do meu hálito.
Escrevo, porque já não resta muita defesa nesse mundo
E pra não me tornar ainda mais cego, escravizo as palavras para me servirem de bússola nessa estrada indivisível sem direção.
Escrevo para que não haja ponto final. Que a vírgula seja o indicativo dessa insígnia que vou te deixar.
Está infeccionado.
A febre não cessa e, envolto em delírios, confundimos a medida de amar com a de não estarmos sós.
No meio dessa lacuna - lack - incluímos qualquer adereço.
Escrevo porque tu me fizeste calar e só essas palavras são capazes de me encher de glória e triunfar sobre a sua nescilidade.
Estou vivo. Sinto. Amanheço e desfarço!
Não admito que tu te envolvas nos resultados que a quiromante viu na ponta dos meus dedos. Antes, os tivesse visto nas marcas da minha língua já tão visitada.
Receio, agora, que me perdi.
A escrita, entre todos os seus perigos, tem o poder infinito do entorpecimento e da lucidez.
Escrevo, portanto, para praticar essas duas armas e abater-te como ave de rapina, mas te ofereço a fuga. Com isso tu te tornas ainda menor diante da minha audácia de prender-lhe quando bem entendo e de soltar-lhe por pura pena.
Lê, entra por esse labirinto de mil minotauros.
Orientados por Dionísio, farão com que você desfaleça de prazer.
Mas não se esqueça:
Escrevo, porque sei o modo com o qual se executa a sua leitura.