quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Apesar da dor 09/09/09

Tudo, apesar da dor, valeu a pena...

Sua sátira, seu desprezo, sua mentira olho-no-olho
Cada pedaço mal digerido de sua postura, formou minha concepçao de agora.

O doce que te servi e a proteção que construí sobre seu abrigo.

As noites de sono sem o descanço natural ao humano
Você em busca de algo, do lado de fora de nossa casa!

Bastava assumir sua fantasia -qualquer que fosse - e pular o seu carnaval macabro,
Mas fizesse isso sem mim.

Sou uma mulher, agora, cansada.
Esgotada do sabor do fel (mas já gostando dele), nem quero provar do mel

Comecei pelo meio, porque vive a me contar sua desgraça:
Como é triste sua vida! Vida?
É mais um fungo escalando a parede lodosa do cotidiano
Que um homem vestindo jeans e expirando fumaça de um cigarro barato.

O primeiro, então? Uma besteira!
Hoje, ele vive como aprendeu: do nada.
Não me encara, não me acompanha nem me alcança.
Não sei quem deseja ser.

Sou uma mulher, agora, desacreditada.
Não me importam suas juras ou as marcas de autoflagelo que usou como correção...
Digo-te que nem-me recordo dos seus sabores.

Os atuais tentam me cercar. Tirar algum proveito!
Eu não me importo. Permito somente.
Eles me olham com olhos que despencam de prazer,
Admiram-me a geografia do corpo, o cheiro do meu cabelo,
A seda da minha pele e o fogo do meu beijo,
E mentem, em cada jura que me fazem.

Eles fingem que me afetam em algo e eu sinto a delícia de ser afetada,
Para, simplesmente, renascer

Porque, apesar da dor,
Tudo o que me ensinastes, hoje é ferramenta consolidatória de uma experiência sem preço e sem tempo de validade.

Meu repertório é IMPERECÍVEL.

Sou uma mulher!

Adriano Gustavo di Andrade

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Fio da navalha - 07/09/2009

Porque só o cotidiano não me bastava.

Quando olhei os resultados da implicação desses dias,
Retornei ao passado adormecido e não aprendi nada.
Graças!
É do presente que se tiram os frutos
Ou para o futuro que se enterram, fundo, as sementes.

Nenhum deles nem mesmo eu esperamos a fé como conforto,
Senão o avesso de uma cegueira que só aumenta.

Foi voraz o arquivo de notas e retratos que olhei, mas não vi.

Tudo estava exposto ao público que tratou de me excluir,
Porque, talvez, era eu a peça que se exibia sem rubor na face.

Amargurados e ordinários, na passarela do que se chama amor,
Zumbis e avatares dançam
Sobre o fio da navalha.

Eu ando por caminhos...
Inclinado a 45º, tento apoiar-me no pouco que tenho,
Mas não usarei da substância inútil, se tenho a vida ainda a suportar.

O trabalho, senão tripallium
A palavra, senão o pior suor
E a angústia, senão alento.

Estou deitado,
Sobre o fio da navalha.


Adriano Gustavo di Andrade

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A águia velha - 02/09/09

A Águia velha está cansada.

Ela caçou demais, sem nunca ter sorrido
Fez isso, porque seu instinto ordenou,
Não porque tivesse a verdadeira fome.

Sob suas unhas, tenta esconder os restos de sangue de suas vítimas,
Mas seu bico é incapaz de prover-lhe a limpeza que suprime a culpa,
Embora seja próprio para a rapina que rouba a vida.

A Águia velha está se rendendo.
Seu espírito, cheio de mágoa, já não prossegue mais:
Não voa, não vislumbra, sequer caminha.

Em serenata, fingindo o tom mais dissonante,
A Mentira sorri para a Águia que tenta notar o que sucede,
Mas já são cegos os seus olhos,
São surdos os seus ouvidos,
São débeis suas asas,
É finda a sua voz.

Presa em sua própria dúvida,
morre nos braços da Esfinge de seu ser.


Adriano Gustavo di Andrade