sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Contrato 19/02/2009

Vivemos num acordo íntimo de convivência:
Ele lá.
Eu cá.
Esse abismo que nos separa é exatamente, o que nos une.
Vivendo em periferias distintas, os corpos a não se tocarem mais, faz com que as almas se abrandem, num compasso ausente de libido e posse... e flutuam alto,
Onde só o que se imacula é capaz, ainda, de ser puro e raro.

Adriano Gustavo di Andrade

Uma satisfação – 2007

Aqui está o poema que ainda não te escrevi.
Por várias razões:
Faltou luz para iluminar, totalmente, o meu pensamento.
Faltou a visão de tudo para defini-lo, porque tu és universal.
O que poderia eu fazer para atingir o que você é?
Porque certas palavras existem, mas são plenamente difíceis de dizer.

Adriano Gustavo di Andrade

Contradição 01/10/05

Agora já não sei se sinto falta de ti
Ou se do que vivi ao seu lado.
Do carinho, da amizade, do prazer...
Aquele gostinho bom de estar junto
O conforto do cheiro – do olhar.
A dança do dia-a-dia, o acordar:
Vício, costume ou sincronia?
Tudo compartilhado, a felicidade...
A flor que te dei,
O poema que te escrevi,
O adeus que nunca quis te conceder,
Mas rugindo em mim uma nova disposição.
Permanece a sinceridade
Por fim, sei:
O que plenamente vivi, foi com você.

Adriano Gustavo di Andrade

Era uma noite muito fria. 23/06/05

Muito distraída e vestida elegantemente, ia aquela mulher, pensando no chocolate quente que a esperava em seu confortável apartamento.
Ao passar pela esquina da Praça da República, sem intenção, tropeçou, no que parecia um grande e pesado pacote.
Protestou:
- Que droga! Há lixo em todo lugar nessa cidade. Ninguém faz nada.
Sem esperar, percebeu um gemido vindo dali. Parou, inclinou-se e notou que, no meio do lixo, algo se movia.
O sujeito, que encontrou aquele lugar de mais confortável e quente naquela noite, levantou-se e resmungou:
- Não vê por onde anda? Tem tão pouco lixo assim que você não me percebeu?
A mulher, atônita, não respondeu nada. Refletiu, refletiu e continuou seu caminho. Por fim, sussurrou:
- Meu Deus, por que todos não possuem a mesma sorte? Não somos filhos de ti e, portanto, irmãos? Oh Grande e justo pai!
Poderia haver uma única resposta, mas há religiões demais.

Adriano Gustavo di Andrade

Teu perfume 12/04/07

Que o seu perfume não me toque a língua
A amargar o doce que, há tanto, preservo
Pois que, ao sentir sua fragrância
Todos se aprazem e encantam
Ao passo que, para mim,
Afasta no íntimo
E só atrai na superfície.

Adriano Gustavo di Andrade