domingo, 13 de março de 2011

Das coisas feitas pra nos enganar, a retórica é a mais sintomática, a que mais penetra.
Alguem traz, em seu repertório, uma série de arestas, umas lacunas a serem preechidas. E essa pessoa passa a visa toda, ainda que não saiba conscientemente, em busca do grande operário que executará a obra de lhe preencher o que falta.
Daí temos a origem das relações doentes que conhecemos, atualmente.
Mais uma vez, não estou descobrindo nada nem é novidade sobre o que escrevo, no entanto, a repetição de tal evento é tamanho, que só tratando a respeito me sinto um pouco melhor.
Eu também tenho me enveredado em uma canção plena de notas a me seduzir. E eu tenho me deixado enlevar, tal uma criança diante de um brinquedo brilhante e multicolorido.
Eu tento dizer não, mas confesso que, não fossem esses quilômetros todos a nos separar, já estaria em sua armadilha. Pronto para pagar as consequências.
Essa retórica, essas lacunas, as malditas buscas...
Onde está a origem da palavra que nomeia o que sentimos? E onde está o antídoto que nos libertará da condição de sermos unicamente humanos?

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Poema para te matar de amor 22/02/2011

Perdido numa sala repleta de palavras
Estáticas, latentes, pulsantes, armadas
Exilei-me de você!

Veneno atroz e peçonhento
Sulco de uma matéria clandestina
Tráfico de um sentir vago e plenificado,

Entrei pela porta dos fundos de sua casa, quando já não mais me cabia espaço para estrear.
Executei o melhor dos meus números,
Esforcei-me, ao custo de tornar-me zumbi,
Roubei-lhe
Mordi-lhe

Em troca, nada.

Havia anúncios a cada 15 minutos na programação televisiva – no horário nobre:
Tenho 33 anos, 1.84 m, 80Kg, graduado, gosto de conversar...

Na esquina, um açougue exibia suas peças
Na fármácia, além do amor, coragem, sexo, a vergonha e o sono eram vendidos
No casa de música, espantos e solidão.

E rimos todos e dançamos tanto que não sobrou tempo para a nossa verdade.

Eu te amo, intensamente
Como a mãe que chora a morte do filho
Como um cão que não consegue controlar o cio
Como o brilho da pérola após tanta dor.

Eu queria expor esse amor, mas não tenho ferramentas para isso.

Fui deportado. O meu sujeito foi elidido e as chuvas apagaram a memórias dos signos que compunham seu nome.

E nem as nuvens, tampouco os besouros continuaram o seu trabalho nesse aterro de flores duras.

Espera-se que tu tenhas a decência de se retirar do mundo, uma vez que carregas esse poder ignóbil
Um poder que dizimou todas as civilizações antigas e, por isso, navegamos sobre as navalhas do que nos restou.

Mas para onde vais?

Sua morada não está no infinito.
Ela está aqui comigo,

Como um anjo apocalítico – em poder, mito e glória o protegerei nesses meus braços,
em cuja ordem não há outra determinação mental senão a de te amar.

Celebrarei-te, inefável, arcádico e sagrado Amor

Vivamos – ainda que seja morte - assim: Sob o poder do amor