quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Dos Amores - 17/12/09

Na estratégia de viver doce, quando a sina é amarga,
Tenho conhecido - sem tocar - muitos amores.
A distância é proposital:
Garante o bem estar de não vislumbrar certos olhos e desvendar outras verdades.

Desses amores, não sei quantos dizem que me amam;
Que me querem pra vida inteira;
Que pensam em mim;
Que querem sugar até a última gota dos fluidos que vazam do meu corpo, natural ou mecanicamente;
Que cada dia sem mim, sem minhas palavras, sem minhas promessas, é um dia de morte,
Que querem meu cheiro, minha pele, meu sorriso, minha identidade visual,
Ainda que NUNCA tenham me visto em sua frente.
O pior: eu acredito como uma criança nos braços de sua mãe!

Com outros, já me deparei:
Presenciei soluços de um choro desesperado, tentando expulsar a solidão - nossa gêmea univitelina.
Curei dores e doenças incuráveis como um messias milagroso.
Fui pai, mãe, irmão, uma família inteira. E fui amante!
Tornei-me avalista, consultor, psicólogo, engenheiro. E tornei-me gerente!
Açoitei, desprezei, ofendi, surrei, torturei. E mostrei o sádico em mim.
Salvei almas.

Mas sofri segregações terríveis.
Suportei gestos de recusa a sangue frio,
Olhares de não maquilados de sim,
Desculpas famigeradas. Desencontros. Sumiços.
Supliquei que ficassem comigo, mas partiram em busca de seu desejo egoísta.
EGOísmo? Essência da natureza humana.

Uma cratera, sendo aberta no campo da ética e da moral,
Revelou que somos a continuação de uma procissão cega rumo ao precipício,
Onde, mortos, conviveremos melhor, porque nos faltará a fala. Porque não teremos a ação.

Após essa saga, tive de situar - tal como fui orientado - muitos deles, na periferia da minha vida.
Mas tenho um medo avassalador:
São tantos ordinários que já estão lá, formando uma legião sem face, sem id e sem ânsia
Que corro o risco de ficar só aqui no centro, derramando as lágrimas de sangue de um santo negro e desprezado.

Neste centro,
Ainda está você: criatura estranha aos olhos de todos,
mas que a mim tanto apetece.
Você, que não virtualizei um segundo de contato sequer.
Você, a quem sufoquei com meus carinhos e cuidados.
Você, que estava à mercê do próprio azar - já que sua vida não conheceu a sorte,
E eu resgatei, para um brilho de luz que acabou por te cegar,
Para um abrigo de amizade e proteção,
Para uma concha, cuja acústica esfacelou seu tímpano,
Para uma altar, onde a adoração fez-te enchergar-me IMACULADO.

Adriano Gustavo di Andrade

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Lamento - 19/11/09

Chorei tanto que pensei nunca mais entender as razões do simples.

Na verdade, escorreram três ou quatro lágrimas,

Contudo, elas tinham percorrido caminhos tão vastos do meu ser
Que foi horrível pari-las, entregando ao mundo, já farto disso
Uma ponta mais de dor.

Entreguei-me.

Colhi as pétalas da rosa com a qual surrou o meu futuro
Juntei as folhas do poema com o qual anulou minha ânima
Tentei recompor os cacos do telhado da casa, onde me escondia da solidão
E,
Agonizando, gemendo, tentei pairar sobre as pernas que você me tirou, quando furtou-me a ilusão de viver ao seu lado.

Mas, infelizmente, sobrou-me o ar - a respiração!
Por que?
Porque nossas almas estavam próximas, unidas,
Apesar desse intruso que persiste sem cura.
Enquanto nossos corpos estavam separados por uma atmosfera PRÁTICA
E,
Por isso,
Intransponível e indissolúvel.

Adriano Gustavo di Andrade

Lamento - 19/11/09

Dna Onesta - 16/11/09

Sempre pairava uma alegria, quando junto com o aroma daquele delicioso café, podíamos ver o sorriso de Dona Onesta.

O ritual era sempre o mesmo. Dna Onesta acordava, passava alguns minutos no banheiro, sentada, pensando em sua vida de quatro paredes. Depois, colocava água pra ferver e preparava o tal café.

- Agora sim, vamos começar o dia! Exclamava consigo e com as plantas de sua cozinha.

Ao longo do dia, debruçada em sua janela - sempre aberta e dirigida pra rua - Dona Onesta cumprimentava a todos. Conhecia todos.

Um ou outro entrava, matava alguns minutos do dia e paria outros de prosa e, suspirando, tomava do café social. Assim seguia o resto do dia... políticos, vizinhos, peões, fofoqueiras e madames. Unanememente, o café era apreciado e compunha o ir e vir dos passantes.

Certo dia, porém, Dona Onesta resmungava incorfomada, chorava, sofria como se alguem tivesse partido.

Indaguei. - O que houve Dona Onesta? E não obtive resposta.

Dia depois e outro e mais outro... durante meses, trancou-se em casa. A janela do mundo de seu quarto cerrada. O bairro atônito. Os corpos passavam, mas os pescoços e olhares eram todos voltados para a casa de Dona Onesta.

Não havia mais odor. Não havia mais música nem seu sorriso.

Mais tarde, contaram-me:

- Dona Onesta não suportou acordar num dia e ver que restava café do dia anterior em seu bule. Pesava-lhe o fato de ter perdido uma chance de convicência proporcionada por sua bebida mística e coletiva.

Vai-se entender!!!


Adriano Gustavo di Andrade

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Soneto inebriado 10/11/2009

Beijei-lhe com tal ânsia e sede,
Que te fiz acreditar no amor fluido em minha saliva.
Esta sorvida por ti, como o antídoto ao que te condenava à solidão,
Tornou-o cativo dessa minha promessa carnal desesperada.

Cada canto do seu corpo conheceu meu tato,
Fui onde tu desejavas tanto, mas nenhum explorador se atrevia,
Ultrapassei a fronteira que separava teu corpo de tua alma e,
Por recompensa, recebi seu gozo e o desmaio da satisfação noturna e exausta.

Depois, você me sorriu
E eu ébrio, jurei-lhe amor mais que eterno:
Ofereci-lhe o amor daquele exato momento e, por isso, verdadeiro e único.

O ilimitado desse amor em mim, acontece agora,
Quando termino em palavras jamais alcançadas,
O que iniciei, enquanto sofri de amor por ti, no leito do amor inebriado.

Adriano Gustavo di Andrade

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Você é intermediário 05/11/09

Encontrei suas palavras esquecidas no
fundo de um armário de um frio escritório.

Tentei resgatá-las, mas não valeria o esforço.
Abandonei-as mortas, já que poderiam ressucitar algo o que não desejo.

Eram sua tentativa de redenção?
Eram a busca atormentada da manutenção de seu desvio?

Você sempre me foi intermediário.

Sempre esteve entre o sim e o não
o antes e o depois
o já e o nunca
a decisão e a desistência
o imaginado e o efetivo.

Esta sua prática deriva do pensamento de que,
assim,
Não encanta nem desencanta demais,
Embora queira estar entre os caminhos de todos.

Contaminou-me com isso. Sofro!

E, enquanto intermedeio o que já é fragmentado,
Imaculo-me na defesa de um escaravelho urbano e de luz intensa...

Tão intermediário foi que me matou e não teve a coragem de permanecer sozinho.
Matou-se em seguida, deixando apenas como satisfação aos que nos amavam
O marcador de páginas onde sua vida fora escrita.


Adriano Gustavo di Andrade

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

"Miojo de copinho" - 16/10/09

Subi as escadas rolantes com pressa, porque a fome estava me tirando a paciência.
Tinha duas preocupações:
1 - a lanchonete estaria aberta?
2 - aceitariam meu cartão de débito?
Eu não tinha R$1,00, sequer, no bolso.
Ao chegar no caixa, já aliviado, quando vi o adesivo da "bandeira" do meu cartão, uma senhora com cerca de 75 anos se aproximou e pediu:
- Moço, paga um "miojo" para mim?
Imediatamente, respondi que sim e a questionei se ela queria algo mais nutritivo, algo que lhe desse maior sustância.
- Não moço, só macarrãozinho daqueles de "copinho", sabor galinha caipira. Gosto desse!
Em meu pensamento, uma revolução angustiante. Não tive coragem de fitar diretamente os olhos doces e azuis daquela senhora - poderia ser minha avó, mas não era. Era apenas mais uma órfã dessa vida.
Fiz o meu pedido e, enquanto esperava, a senhora não desviava a atenção ao que o atendente fazia, atrás do balcão. Notando isso e entendendo sua aflição, disse ao funcionário, em voz alta, que entregasse o tal "miojo de copinho" para a senhora. Ela sorriu.
Distanciei-me um pouco. Ela veio atrás de mim e disse:
- Você tem um sorriso lindo! Seu sorriso vale mais do que vinte mil reais.
Franzi minha testa e questionei sua afirmação. Ela respondeu:
- Os implantes dentários são muito caros. Quando você me sorriu, notei que seus dentes são lindos e perfeitos. Você não precisa de implante, então significa que você tem v i n t e m i l r e a i s. Ela disse pausadamente.
Sorri.
Quando recebeu o que fora pedido, a senhora comeu, avidamente. Lançou-me um novo olhar composto de vergonha e gratidão.
- Muito obrigada, moço!
Uma garfada, quase queimando a língua e:
- Muito obrigada, moço!
- Moço, obrigada e que deus lhe abençoe!
- Moço, obrigada viu?
Aquilo tornou-se um mantra aos meus ouvidos. A senhora continou se repetindo, incansavelmente.
Passei por ela, passei as mãos em sua face e fui embora.
Sou exatamente igual a ela. A única diferença é que, por sorte, a lanchonete aceitava o meu cartão. Tivemos, eu e a pobre velha, sorte. Caso contrário, continuaríamos com a mesma fome.
Dessa vez, não fui embora com culpa.
Na falta visível de um grande pai, fui o irmão mais novo daquela a quem nem ao menos perguntei o nome.
Nossa fome era demais, para lembrar desses detalhes.

Adriano Gustavo di Andrade

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Folhas mortas 12/10/2009

A Dualidade de Noncert era algo estranho.
Residia na sua forma inverídica de se ver - e de ler o mundo.

Certa noite, olhei profundo em seus olhos, ao que ele não pôde resistir.
Deu-me sua mão e confessou algumas estórias de sua vida.
Eu permancei impávido. As partes mostradas naquela audiência não me eram inéditas.

Sua dualidade foi defendida, argumentada, maquilada, de modo a me sofismar,
No entanto, a força visceral do que se sucedia, foi exposta em seguida.
O que se tem dentro em putrefação, logo estoura, trazendo à tona o que não se pode ocultar.

Eu jamais esqueci a doçura de Adélia, suas palavras, seu olhar dormem e acordam comigo.

Dia desses, andava sozinho pelas ruas da minha vida.
Passaram folhas mortas pelo meu caminho:
Não servem para nada. Só estão ali, para mostrar sua existência.

Infelizmente, pessoas são como folhas mortas...

Eu bem sei as que cultivo em meu jardim. Tamanho carinho, cuidado e devoção.
Estas vivem e estão comigo, enfeitando o meu peito, perfumando o meu gesto.

Esperamos um milagre. Ele não acontecerá!

Adriano Gustavo di Andrade

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Check out 07/10/2009

Nossa evolução como seres humanos pensantes esbarra nas telas de 14 a 20 polegadas. É ali, marginalizados e subversivos que caímos na isca doce de cometer diversos males. Pois é, não temos mais para onde "voar" tudo já foi dito e ensinado, mas o www não nos deixa ter tempo de aprender.
Isso, o que chamamos de evolução, é tão somente um necrotério "à tela aberta". Pênis, vaginas, ânus, felações, ejaculações, "fistações" etc. Tudo deflagrado aos milhões de acesso world wide.
Arrebenta-me de tristeza esse abraço que jamais será dado, senão pela ponta dos dedos; esse beijo que não passará de uma abreviação digitada.
Sim, estamos em plena GRANDE REVOLUÇÃO das aproximações globais sem ao menos reproduzir um mínimo, mas essencial, olho no olho.
As pessoas tem se aproximado em relações comerciais, não daquelas existentes para certo equilíbrio, mas aquelas de prostituição, de promiscuidade...
Quantos anos? Idade? Altura? Dinheiro? Roupa? Balada? Potência e posição sexual?
Pronto! Está feito o check out.
Se você atendeu aos requisitos, terá, ao menos, alguns minutos de uma "trepada" (perdão). Se você não atendeu aos critérios daquele que te avalia com a prancheta de um legista, num necrotério construído por nós, paciência! Terá de se isolar nos becos que ainda restam para os que não cumprem as exigências mínimas - há lugares escuros (e onde estão os claros?) por aí, onde você não é visto, não se apresenta nem é questionado de nada. Apenas goza. Ao final da esmola de alguns centímetros de nervo cavernoso de sangue que te foi dado ou pedido.
Ouse rir e achar demasiado o que escrevo. Amanhã, estará você no centro dessa imundície a que chamamos: RELAÇÃO HUMANA NECESSÁRIA.
Tudo bem, o seu maior desejo a essa altura é recusar o que escrevo e bravejar: Eu não! Xiste puro!
Somos todos iguais. Eu poderia buscar com a superstição verbal a minha absolvição. Mas não quero. Estou cansado. Entrego-te a palavra que pode me condenar à verdade. Pior morte.
E o que está nisto que tentamos ensinar um ao outro? Está toda a contaminação do pouco que aprendemos e, por ser pouco, tornou-se o pior veneno. Esta substância está percorrendo todo o nosso ser, corroendo a miséria farta que temos. Por desespero, passamos por cima de tudo e de todos. Afinal, eu e somente eu tenho que sobreviver.
Desejamos que fosse diferente, mas foi só o que aprendemos.
Você está on line? Tc de onde?
Como seguirá a sua história?

Adriano Gustavo di Andrade

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Apesar da dor 09/09/09

Tudo, apesar da dor, valeu a pena...

Sua sátira, seu desprezo, sua mentira olho-no-olho
Cada pedaço mal digerido de sua postura, formou minha concepçao de agora.

O doce que te servi e a proteção que construí sobre seu abrigo.

As noites de sono sem o descanço natural ao humano
Você em busca de algo, do lado de fora de nossa casa!

Bastava assumir sua fantasia -qualquer que fosse - e pular o seu carnaval macabro,
Mas fizesse isso sem mim.

Sou uma mulher, agora, cansada.
Esgotada do sabor do fel (mas já gostando dele), nem quero provar do mel

Comecei pelo meio, porque vive a me contar sua desgraça:
Como é triste sua vida! Vida?
É mais um fungo escalando a parede lodosa do cotidiano
Que um homem vestindo jeans e expirando fumaça de um cigarro barato.

O primeiro, então? Uma besteira!
Hoje, ele vive como aprendeu: do nada.
Não me encara, não me acompanha nem me alcança.
Não sei quem deseja ser.

Sou uma mulher, agora, desacreditada.
Não me importam suas juras ou as marcas de autoflagelo que usou como correção...
Digo-te que nem-me recordo dos seus sabores.

Os atuais tentam me cercar. Tirar algum proveito!
Eu não me importo. Permito somente.
Eles me olham com olhos que despencam de prazer,
Admiram-me a geografia do corpo, o cheiro do meu cabelo,
A seda da minha pele e o fogo do meu beijo,
E mentem, em cada jura que me fazem.

Eles fingem que me afetam em algo e eu sinto a delícia de ser afetada,
Para, simplesmente, renascer

Porque, apesar da dor,
Tudo o que me ensinastes, hoje é ferramenta consolidatória de uma experiência sem preço e sem tempo de validade.

Meu repertório é IMPERECÍVEL.

Sou uma mulher!

Adriano Gustavo di Andrade

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Fio da navalha - 07/09/2009

Porque só o cotidiano não me bastava.

Quando olhei os resultados da implicação desses dias,
Retornei ao passado adormecido e não aprendi nada.
Graças!
É do presente que se tiram os frutos
Ou para o futuro que se enterram, fundo, as sementes.

Nenhum deles nem mesmo eu esperamos a fé como conforto,
Senão o avesso de uma cegueira que só aumenta.

Foi voraz o arquivo de notas e retratos que olhei, mas não vi.

Tudo estava exposto ao público que tratou de me excluir,
Porque, talvez, era eu a peça que se exibia sem rubor na face.

Amargurados e ordinários, na passarela do que se chama amor,
Zumbis e avatares dançam
Sobre o fio da navalha.

Eu ando por caminhos...
Inclinado a 45º, tento apoiar-me no pouco que tenho,
Mas não usarei da substância inútil, se tenho a vida ainda a suportar.

O trabalho, senão tripallium
A palavra, senão o pior suor
E a angústia, senão alento.

Estou deitado,
Sobre o fio da navalha.


Adriano Gustavo di Andrade

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A águia velha - 02/09/09

A Águia velha está cansada.

Ela caçou demais, sem nunca ter sorrido
Fez isso, porque seu instinto ordenou,
Não porque tivesse a verdadeira fome.

Sob suas unhas, tenta esconder os restos de sangue de suas vítimas,
Mas seu bico é incapaz de prover-lhe a limpeza que suprime a culpa,
Embora seja próprio para a rapina que rouba a vida.

A Águia velha está se rendendo.
Seu espírito, cheio de mágoa, já não prossegue mais:
Não voa, não vislumbra, sequer caminha.

Em serenata, fingindo o tom mais dissonante,
A Mentira sorri para a Águia que tenta notar o que sucede,
Mas já são cegos os seus olhos,
São surdos os seus ouvidos,
São débeis suas asas,
É finda a sua voz.

Presa em sua própria dúvida,
morre nos braços da Esfinge de seu ser.


Adriano Gustavo di Andrade

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Sua história cabe num marcador de páginas!

Sua história cabe num marcador de páginas!
É ínfima
É o ferrão de uma abelha operária
É a cinza de um sulfite incinerado.

Triste concluir que seus dias, teu repertório
Não resultou além dessa filipeta, cujo uso não me acrescenta nada,
Mas organiza o livro sobre o qual me debruço,
Para lembrar dos tempos que antecederam sua aparição.

Minúscula, porque recheada de milhões de trocas sexuais,
De servicialismo, de mentiras, de entorpecimento macabro...
A tua história poderia ser um enredo,
mas é menos que um mote sobre o qual escrevem os bêbados,
quando mijam no chão que se pisa.

Embora foram incontáveis aqueles com quem você deitou,
Apesar da procissão de vítimas a quem você sofismou,
Ainda que inúmeras vantagens arrancara de mim e deles,
Tua vida não é nada, pois ela se resume em 4 letras:
AMOR...
ÓDIO...
SEXO...

Temas que dariam um roteiro magnífico,
Não fosse o protagonista da exibição um sujeito púlia.

Ainda te acerto, enquanto você sobrevoa o centro da minha vida
Viverá da seiva parca do Mandacaru e dos ovos das cobras.

Adriano Gustavo di Andrade

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Pois é! 23/07/09

Estou me amando tanto, que ouvi suas músicas, é... aquelas que me remetem diretamente a você e dancei, alegremente.
As lágrimas anteriores, derramadas por desespero, já fizeram nascer uma nova planta em meu jardim. É a primeira, mas é a mãe das milhares que virão depois, denunciando a vida dentro de mim.
Comecei a falar tanto... a encontrar-me com tantas pessoas... a sentir tantos novos cheiros... a abraçar a verdade em meus amigos, que decidi: foi MARAVILHOSA a sua ida.
A Legião estrangeira de Lispector pegou-me de surpresa. Não sei definir o porquê dessa alegria e desse contentamento.
Esses moradores em meu ser estão sustentando cada pilar do meu palácio interior, tornando-me suserano-mor de uma sociedade possível, mas inexistente.
E a cada suspiro, tal qual uma dose analgésica cavalar, que sinto, desejo estar cada vez mais longe de você.

Adriano Gustavo di Andrade

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Temos que aprender isso 20/07/2009

Goela abaixo, enfiam-nos quilotons de mágoas, excrementos e injúria.

Escorre-nos uma única lágrima pela maçã do rosto.
Uma maçã que não participou do pecado da criação, embora põe-nos vermelhos em aço,
diante de uma escravidão, cuja liberdade é farta,
mas que não se pode sair...adictos eternos.

Neste ciclo de horror, há protagonistas encenando.
Um deles exibe uma face linda, um andar calmo e uma voz esguia.
O outro é a imagem do peso:
São baixos os seus olhos, tortos os lábios e travados os dentes.

Fúria...

Esgotado de um subjulgo aromático e sedoso,
Mandei-lhe voltar para a caverna que o pariu
A dar com os juízos aos morcegos
E ler nas pedras o seu futuro que não passa de uma substância fria e inóspita.

Adriano Gustavo di Andrade

sábado, 18 de julho de 2009

UM favor 18/07/09

Passava de meia noite, quando minha mãe abriu a porta de nosso apartamento.
A campainha já tinha tocado diversas vezes, em poucos segundos. Ela, sem entender, precipitou-se a atender.
Era nosso vizinho do 4° andar. O rapaz, nervoso e com vergonha, tentou gesticular o seu pedido. No entanto, a comunicação humana está vazia: não há sinais, sons ou palavras que consigam remendar as lacunas criadas entre o nosso espírito.
Minha mãe fez sinal de que iria chamar algum vizinho. O rapaz, angustiado, virou as costas, quando minha mãe o impediu e, com suas mãos e lábios (débeis ao que se propunha) tentou dizer-lhe se conseguia escrever o que precisava.
Já na cozinha, um tanto trêmulo e com os olhos perdidos, pegou a caneta e um papel, onde escreveu:
"Por favor, um pão"
Minha mãe, sem palavras - estas seriam inúteis - abriu o armário e, mecanicamente, entregou-lhe o que tinha sido pedido.

Fundo de cena I:
Esse rapaz tem deficiência auditiva, potanto não fala nem escuta. Sua família viajou, deixando-o sozinho, não por irresponsabilidade - talvez, não posso julgar esse ponto - mas porque ele trabalha e não estava em época de férias.
Acredito que minha casa foi indicada por sua mãe, caso ele precisasse de algo. Assim, foi lá que ele foi diante dessa necessidade básica a que fomos condenados...
Imaginem as necessidades dele!

Fundo de cena II:
Eu não tinha sentido vontade de escrever sobre esse tema, até que hoje, enquanto realizava minhas orãções, abria a gaveta do meu oratório e encontri o papel, onde ele tinha feito sua súplica.
Senti-me, profundamente comovido e mais uma cônscio de nossa realidade:
Sinto pena da raça humana.

Adriano Gustavo di Andrade

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Um sonho I 17/07/2009

Era um campo de luz amarela, flores mortas e trigos que me cortavam a pele.

Corríamos por essa paisagem,
quando você me tomou o braço,
apertou meu pulso e passou a me rodopiar.

Eu sorria, mas não entendia nada.
Sua expressão não me revelava cisa alguma - dúvida!

Meu espírito, tentado por uma profecia, empurrava-me
Abismo abaixo queda livre desespero...
Ao notar, estava massacrado num chão mais duro que já realizei e,
Você me olhou com a doçura de uma tulipa, rogando por não ser arrancada.

Disse-me:

- Cuidado comigo!

Acordei suado, triste e sozinho.

Adriano Gustavo di Andrade

segunda-feira, 13 de julho de 2009

O que escondem estes rostos? 13/07/09

O que escondem estes rostos
Que passam por mim, nas ruas, nas casas, nos lugares todos?

Que crime oculto disfarça este seu olhar de anjo branco e cabelos limpos?
Que exaustão esta tentativa de decifrar coisa tão por trás!
Por que insisto nesta busca insólita,
Como um tecelão tenta arrancar seda de uma mosca.

Fora daqui!
Para trás esta invasão que se mascara de forte,
Mas que não passa de um caniço afogado numa enchente em Bangladesh.

E eu?
O que sou, portanto?
Assumirei a dimensão que eu quiser e não a que os embriagados de caos me obrigam.

No meio desses rostos, desses disfarces, desses sofismas todos.
Tenho que ser mais um - porque assim impera a vida...
Mas controlarei com os pés firmes a rocha que tenta me lançar
Montanha abaixo.

E quando você me olhar novamente,
Não tomarei outro caminho, senão, o da continuidade do meu brilho vital e limpo.

Cristalizo-me!


Adriano Gustavo di Andrade

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Agrada desagrada I 10/06/08

Haverá sempre algo de agradável ou de insuportável em alguém,
Porque não é solitariamente que se conclui isto. É acompanhado.
Isto é, será agradável a certo fulano aquele que couber em sua visão de agrado
E será insuportável a sicrano o que é assim para este.

Imagina, então, quando a parte que desagrada a ti é flagrada em si mesmo?
E o que não considerar a respeito do conflito interminável desse enjoo?

Porque o que se procura, normalmente, é o reflexo, ainda que este seja incômodo.

E, diante disso, conclui-se que somos sempre metades.
Já que ficamos à mercê de um apontamento do outro
E este outro é vítima de sua própria visão-meia,
Pois entra, também, no círculo de classificações alheias e incompletas.

Assim, seguimos nesta dança...
Hoje agradando este, amanhã aquele, mas nunca inteiros.

O que nos resta?
Talvez, o isolamento, consoante que, em cavernas, tudo o que te aprazer ou não,
será tão somente o fruto de sua insconstância e busca insólita do perfeito fabuloso.

Adriano Gustavo di Andrade

segunda-feira, 8 de junho de 2009

O Definitivo 08/06/2009

E vinha o definitivo
Mas, qual deles o mais ferrenho?

Com lábios secos e brancos,
A multidão só fazia sussurrar...

Misto de medo e pasmo

Conquanto procuravam um abrigo pra fugir,
Andavam em círculos sobre o próprio pé.

Vinha Deus e a Morte de mãos dadas,
De forças unidas e de contratos assinados.
Um com a língua roxa, outro com o dedo em riste.

No meio da confusão e, sem saber pra quem suplicar,

Dna Antonieta, mulher despercebida feito água,
Encheu o peito de ar e coragem,
Ergueu a sobrancelha e dilatou o nariz o máximo que pode:

A urbe, diante de seu gesto, se muniu de esperança.

Deus sorriu de canto. Morte piscou de um olho só.

Mas Dna Antonieta, esta, mostrou-lhes a língua roxa e o dedo em riste.

A imagem e semelhança de nós dois.

Adriano Gustavo di Andrade

domingo, 10 de maio de 2009

Amínia - 10/05/09

Solteira e com mais de 30 anos, Amínia gostava de seu corpo. Preferia estar só.
Era nestes momentos que, em segredo, gemia de prazeres causados pelo seu toque íntimo.

Sendo aquilo tudo, secreto demais, resolveu relatar ao seu bom amigo o que fazia todas as noites.
Risos foram ouvidos no corredor da mansão.

Sua mãe já indagando:
- Amínia, qual a graça?
- Coisa suspensa mãe. Não deve repousar em lugar algum!

Naquela mesma noite, uma vez mais, toucou-se, gemeu e gozou. Eram viris os seus dedos e era venusíaca a única porta que tinha deixado aberta em seu corpo arqueológico.

Amínia era uma menina intocada que resultou solitária, mas coberta de um prazer autoconferido capaz de revelar-lhe aspectos que, em dupla, não se é possível atingir. Isto por segurança e medo de invasores indelicados.

Certa noite, a cidade dormia. Eu passava pela rua e fui atraído por um canto doce. Um canto de quem acabava de descobrir algo grandioso.

Amínia estava na varanda do solar. Embalava-se numa rede nua e com olhares de contentamento. Nada de especial tinha acontecido, senão a repetiçao de seu exercício diário de prazer solitário e único.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Ele queria tudo - 29/04/2009

Não bastou o ruído, o soluço do meu choro
Ele queria o sal da minha lágrima.

Passou a ponta de seus dedos sobre minha face
Beijou lentamente meu olho e deu-se conta do que acontecia...

Seria necessidade de um alimento para sua incerteza?

Ele pediu que eu não chorasse mais
Que tudo estava bem
Que o pesadelo havia passado

Eu tentava macular, ao máximo, aquela dor ordinária ao apaixonados
Aquele misto de certo rancor e medo da felicidade,

Mas agora, continuo deitado sobre seu braço
E, nos abraços, me perco da realidade para descansar um pouco
Porque a jornada percorrida até este instante, tomou-me o fôlego e a ânsia,
Restando-me apenas a natureza de amar.

Ele desistiu de encontrar minha lágrima...

Buscou minha respiração, minha corrente sanguínea, meu pulso, meu pensamento.

Ele queria tudo.
E eu me abri em entrega e verdade.

Adriano Gustavo di Andrade

sábado, 25 de abril de 2009

Aconselho-te 25/04/2009

Dispenso o seu conselho gratuito.
Quando eu precisar de um, posso comprar e pagar o preço merecido.
Dessa forma, assumo todas as consequencias,
Posso reclamar à vontade, caso minha compra resulte em pura falha.

Depois de usado, lanço fora, tal qual TUDO o que se descarta de satisfação...

Adriano Gustavo di Andrade

sábado, 18 de abril de 2009

Uma ponta de entrega 19/04/2009 (Em Belo Horizonte)

Por amor, ou por crença nele, continuei na minha existência heróica do mínimo.
Sim, porque - ouvi em algum lugar - "o ato heróico mora no minúsulo", onde só se penetra se tivermos o tamanho exato. Quando se é grande demais, permanece fora. E com vontade de entrar.

Então, respirando o ar da felicidade, perdoei-me. Parei com o flagelo de um silício mudo e olhei com o melhor do meu sentido e da minha vida para este convite.

Um presente foi oferecido por gentileza de uma declaração que estava presa.
Vazados em dúvidas, os corações desaceleraram. Côncavo e convexo.

Por que não mais o encaixe absoluto de uma engrenagem. E por que não mais a continuidade de uma safra em cujos frutos se colhem os melhores, quando estão mais maduros?

Aceito e digo SIM. Até que o amor persista - entidade superior que é - e que os nossos olhos continuem relatando, sozinhos, o que acontece com nossos corações.

Ele é a personagem que teria reescrito minha vida, porém esta tinha um roteiro próprio cuja continuidade das cenas implica o momento exato de entrada e saída. Um hiato foi colocado sobre nós - bendito escritor da vida - para se metamorfosear em dígrafo obrigatório e indiscutível.

Sei que há olhares, pensamentos e dúvidas. Mas, há, também, o silêncio de quando nos vemos pela 1ª vez... dizia TUDO.

Ele é o meu amor. O que mas poderia ser?

Por nós, tenho sorrido mais leve, dormido mais claro, sonhado mais lusco e vivido mais pleno.

Isto é o amor inabalável. O conjunto de nós dois faz com que ele REVIVA.

Adriano Gustavo di Andrade
19/04/2009 (Em Belo Horizonte)

Não me importam as milhares de línguas.
A natureza humana é a mesma.

Adriano Gustavo di Andrade
Estrada - 18/04/2009

Madrugada na rodovia Fernão Dias. Breu só! O que consegui ver, FELIZMENTE, foram estrelas - MUITAS estrelas. E mato.
Sou morador da cidade de São Paulo, desde que me recorde disso. Vejo prédios e uma cor local cinza.
Embora ame, doentemente, esta máquina mortífera, tento mais do que nas selvas sobriver aos ventos frios e quentes, às 4 estações que acontecem durante as velozes 24 horas de um único dia nesta megalópole.
O progresso. A ordem... em nossa bandeira patrial, estes substantivos singulares, um masculino e um feminino nao condizem, há muito, com a realidade do que vivemos. Mas não é de política nem de socialismo o que intendo em dizer - estes temas estão postos em urnas funerárias por mim - quero dizer de estrelas, afinal, segundo certo poeta, ainda continuamos olhando pra elas e, comigo, não foi diferente.
As luzes da minha cidade grande me roubam tanta coisa, com a desculpa de não me deixarem roubar nada. No entanto, me tiram o fundamental: o brilho e a existência das estrelas. Que triste, não acham?
Pois é, na Fernão Dias. Breu, silêncio, matagal e Estrelas, muitas estrelas.
Fiquei feliz por não estar sózinho e porque ainda há lugares sem artificialidade de luzes que me cegam a ponto de me tirarem a consciência de que há Estrelas, ainda que não queiram.
Adriano Gustavo di Andrade

sábado, 4 de abril de 2009

Um jantar a dois - 04/04/2009

Sentados à mesa. Filho e mãe. Refeição servida.
Mamãe tinha preparado, com o melhor de seu repertório culinário e materno, aquele jantar.
O filho tinha sentido já inicialmente os diversos sabores daquele tempero ímpar.
Sua mãe adorava receber elogios por suas criações. Era só o que ela podia oferecer...
O filho, em seu ostracismo de palavras e emoções, seuqer teve coragem de estender os cumprimentos merecidos à sua mãe.

Diante desse cenário, entristeci-me.
As relações, enfraquecidas ao limite, não passam de uma continuação do que se vive num trocar de olhos nos corredores de um shopping center.
A extensão dos diálogos frígidos e das relações de casa noturna, de sexo, de risos etc. não passam de uma subcriação do inexistente para cobrir uma grande falta.

O filho tentou, ensaiou com dificuldade uma frase careca, para dizer à sua mãe.
Finalmente, vazou de sua boca vacilante: "que gostoso"!

Aquela noite foi diferente para Dna Amara.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Um desabafo não! Uma constatação: 18/03/2009

Acho que não vão gostar do que escreverei agora. Mas não me importa. Hoje, quero falar de mim e de você.
A minha função dêitica neste texto é uma só: denunciar o seu abuso contigo mesmo.
Ora, que história é esta de “enfiar” a mão na cara de quem você sente tanto nojo e, em seguida, lamber-lhe a face com sua língua grosseira e fétida?
Esgotamento.
Que estupidez grosseira apontar seu dedo torto na cara do seu “amor”, delatando os seus crimes, suas imundícies, seus pecados, suas fraquezas humanas e, logo após, acariciar-lhe a nuca com as costas da mão, para provocar um arrepio físico e inútil?
Abaixo a sua indecência, pois ao olhar, fingidamente, para o tolo que cativou e declarar: “te amo”, pensando nas infinitas possibilidades da traição e do porvir sem ele, esteriliza a semântica e torna a palavra néscia.
Banalidades.
E quanto à angústia sentida por aquele que comprou, sem pagar, um produto em cujo rótulo havia um sinal de alerta: NÃO SE APROPRIE. Desprezando o bom senso, fez uso de tal produto, fez abuso do mesmo e tentou jogar fora... tarde demais. A substância que compunha o adquirido passou a impregnar o adquirente. No fim, tudo se misturou. Sendo matéria única, ambos, continuam a valer nada.
Baixeza.
O meu leitor e minha leitora dirão: “Este aí, acha que está acima de tudo isso... por isso nos aponta e acredita que não cometerá o mesmo erro...”. Digo, como dono desse texto, que vocês têm razão! Já fiz muito disto e voltarei a fazer – cobaia humana que sou de uma trama construída por nós mesmos – mas quero aproveitar o momento que estou fora dessa cela torpe e, com olhar agudo, espeto, até a última gota de sangue derramado, a carne dos bichos que estão lutando pela sua fuga.
Mas, aviso: Tirem-me de lá, quando chegar minha vez, ainda que seja aos tapas, mas me respeitem se, com um resto de consciência eu vos dizer: “Eu sei o que estou fazendo”.
Gargalhada.
“Eu sei o que estou fazendo”. Primeira declaração do desesperado nu, correndo em campo aberto, sendo filmado pelas câmeras do BBB, tentando esconder as vergonhas... segunda declaração do bêbado com nojo de si mesmo, rasgando a própria garganta com suas unhas, provocando vômito... terceira e última declaração de uma bruxa na fogueira do tribunal da inquisição.
Ridículo.
A mulher chorou, com pena de si mesma. O homem chorou, com pena de si mesmo. Os dois se desencontraram na dança suja e descompassada do amor.
Lágrimas, desespero, carência, lamentações, revoltas. Acabe logo com isso. Amor é glória e prazer. Deixa esta parte podre para os negócios.
Às misérias com tudo isto. Olha para fora da sua janela e vai viver!

Sinto profunda pena do ser humano.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Poema de quem pode se apaixonar - 11/03/09

Ele veio de um lugar que ainda não sei.
Chegou e não disse nada, mas notei sua presença.

Ele foi um alento!
Não. Ele é um alento.

Havia um hiato em meu coração:
Separava o amor e a solidão.

Quem me lê, não entende nada. É meu segredo
Agora, tendo aberto com sua chave
A masmorra que cerrava o príncipe que sou,
Parece-me querer fugir, levando-me à tristeza intrusa.

Ao mesmo tempo, entrega-se com um sorriso que me desespera:
Tamanha doçura e propriedade.

Ele É um alento.

Eu corria disso. Corro, ainda...
Sinto medo do que encanta.

Tenho encarado a vida com analgésicos e, às vezes, palavras.
Entretanto, o que descubro em sua existência é a cura definitiva.

É um amor inabalável?
Quem pode saber!

E esta loucura? Esta urgência?
Exagero?
Não! Exagero é a vida: o cotidiano.
Exagero é mais um dia sem tocar a sua mão.
É aguardar, ansiosamente, que você venha.

Pronto!
Chegado o momento, ponho-me a tremer e a ser o mais pessimista.

Pequeno príncipe,
Onde está seu campo de trigo? Onde está a sua raposa? O seu planeta particular?

Está no inalcançável,
Está nos meus braços que te prometem tudo
E não teve a chance de te provar nada,
Porque estes dias, estas horas. Ah! Isto tem me matado!

Não importam os outros. Estes cujos convites têm-me sido dado aos montes...
Eu quero você.
Príncipe da minha vida inteira,
Que mora no agora, quando TUDO é concluído.

Vem,
Traz a chave, o sorriso, o alento...
Traz você e transforma a minha vida.


Adriano Gustavo di Andrade

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Contrato 19/02/2009

Vivemos num acordo íntimo de convivência:
Ele lá.
Eu cá.
Esse abismo que nos separa é exatamente, o que nos une.
Vivendo em periferias distintas, os corpos a não se tocarem mais, faz com que as almas se abrandem, num compasso ausente de libido e posse... e flutuam alto,
Onde só o que se imacula é capaz, ainda, de ser puro e raro.

Adriano Gustavo di Andrade

Uma satisfação – 2007

Aqui está o poema que ainda não te escrevi.
Por várias razões:
Faltou luz para iluminar, totalmente, o meu pensamento.
Faltou a visão de tudo para defini-lo, porque tu és universal.
O que poderia eu fazer para atingir o que você é?
Porque certas palavras existem, mas são plenamente difíceis de dizer.

Adriano Gustavo di Andrade

Contradição 01/10/05

Agora já não sei se sinto falta de ti
Ou se do que vivi ao seu lado.
Do carinho, da amizade, do prazer...
Aquele gostinho bom de estar junto
O conforto do cheiro – do olhar.
A dança do dia-a-dia, o acordar:
Vício, costume ou sincronia?
Tudo compartilhado, a felicidade...
A flor que te dei,
O poema que te escrevi,
O adeus que nunca quis te conceder,
Mas rugindo em mim uma nova disposição.
Permanece a sinceridade
Por fim, sei:
O que plenamente vivi, foi com você.

Adriano Gustavo di Andrade

Era uma noite muito fria. 23/06/05

Muito distraída e vestida elegantemente, ia aquela mulher, pensando no chocolate quente que a esperava em seu confortável apartamento.
Ao passar pela esquina da Praça da República, sem intenção, tropeçou, no que parecia um grande e pesado pacote.
Protestou:
- Que droga! Há lixo em todo lugar nessa cidade. Ninguém faz nada.
Sem esperar, percebeu um gemido vindo dali. Parou, inclinou-se e notou que, no meio do lixo, algo se movia.
O sujeito, que encontrou aquele lugar de mais confortável e quente naquela noite, levantou-se e resmungou:
- Não vê por onde anda? Tem tão pouco lixo assim que você não me percebeu?
A mulher, atônita, não respondeu nada. Refletiu, refletiu e continuou seu caminho. Por fim, sussurrou:
- Meu Deus, por que todos não possuem a mesma sorte? Não somos filhos de ti e, portanto, irmãos? Oh Grande e justo pai!
Poderia haver uma única resposta, mas há religiões demais.

Adriano Gustavo di Andrade

Teu perfume 12/04/07

Que o seu perfume não me toque a língua
A amargar o doce que, há tanto, preservo
Pois que, ao sentir sua fragrância
Todos se aprazem e encantam
Ao passo que, para mim,
Afasta no íntimo
E só atrai na superfície.

Adriano Gustavo di Andrade

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Por um momento... (15/01/09)

Um bobo.
Um tolo.
Um covarde.
Um fraco.
Um corpo, tentando acertar...
Um imaturo.
Um despreparado.
Um sem porto.
Um dependente.
Um homem que ainda não se completou.
Um sacrifício.
Um doador.
Um divisor.
Um atleta da paixão.
Um acabado sem eira nem beira.
EU SOU VOCÊ...

Adriano Gustavo