sábado, 28 de agosto de 2010

Amarga é a vida: doce palavra. 28/08/2010

Essa rapsódia cantada no final de agosto lançou-me ao chão.

Cobri-me de um manto pesado e pensei em você para não tornar minhas palavras ordinárias,
Mas busquei a finitude expressa no que posso alcançar agora.

Tornamo-nos tão parecidos uns aos outros (buscamos isso), para amenizar o ódio que sentimos entre nós.

Não havia lágrima, mas dor - espasmo sem cura.

Uma voz sentida sem a visão de palmos a frente.
A geradora de tudo presa em seu ofício mínimo. Ele que nunca chega. Eu inútil, ingrávido, insoluto.

Ego - ísmos!!!

Apelei para as palavras, em cujo caminho me perco, trazendo aos que as leem conforto e açoite.

O trabalho de um poeta é domar esse bicho selvagem: por mais que se tente, que se levante, que se desprenda, está de volta ao mesmo circo. Torna-se resultado de um aplauso do desprezo.

A vida se nos apresenta com a cor que ela bem entende. Por mais hábil que sejas, seus pincéis não a alcançarão.

Com a miséria em um dos bolsos e a permissão no outro, andamos o dia-a-dia, procurando o próximo a quem bofetearemos por um menear dos lábios a sorrir em troca.

Condenamo-nos a uma vida intermediária:
Amargura, livra-me disso.

Que tempo é esse, deuses mortos, em que tentamos nos agarrar à salvação orada, entretanto nossas unhas são demais frágeis e nos deixam seguir caindo?

Que relação é essa que te faz gozar tanto sobre o meu sangue?

Doce palavra,
Vem à luz
Estou pronto para pari-la,
Ainda que, para isso, deixas a minha existência com sequelas pela falta da substância voraz que nos torna torpes e iguais.

Amarga é a vida.

Adriano Gustavo di Andrade

Rebelião do poeta - 28/08/2010

Na idade da razão, o poeta se perde em dúvidas.

Olha para todos os que vieram ao seu encontro e, feito Blimunda, enxerga suas mazelas internas.

A cabeça me doi agora, mas até essa dor se desfarça. Não se revela para mim.

Eu tive coragem de devorá-lo, enquanto seus olhos brilhavam para cegar o meu amor.
Com perícia militar, barrei suas intenções e reprimi a mensagem que se esforçava por me fazer engolir. Ao final da volúpia, você já me era partidário e seguiria conforme minha guia.

E na festa, fiquei tão sozinho... Eram muito confusas as cores, os sabores, os cheiros, as milhares de formas que as pessoas encontram para elevar a sua verdadeira intenção.

Mas não me rendo.

Apesar de ter estendido minhas mãos, de ter liberado alguns segredos e de ter dito a verdade, o que eles buscam é o lixo. Daqui não consigo passar.

Vem-me a tristeza e se instala como fazem as ervas hospedeiras. Eles repetem o comportamento das ervas. Eu, o das árvores. Contudo, minha seiva é hiperalergênica - logo se desprendem.

Do sabor intenso e distante desse mel, você já provou, bebeu, embriagou-se e não reservou nada. A matéria orgânica ficou desorganizada de tal maneira que retornou às fileiras que tanto tentei te preservar.

E eles dizem que me amam. Vêm e me tentam fazer de amálgama ao seu caráter cariado. Tentam me impressionar com uma linguagem estranha e patética.

E eu sorrio e choro. O desespero me toma conta, porque um de nós se trancou e lançou as chaves no domínio de um conhecimento que não posso alcançar.

Chegou o tempo em que tento te falar palavras simples e próprias ao que você quer ouvir, mas meu silêncio pesa tanto que prefiro te declarar na mais fina sintonia o que não pode ser esquecido nos arquivos da nossa solidão...

Não mexa no meu futuro.

Adriano Gustavo di Andrade