Essa rapsódia cantada no final de agosto lançou-me ao chão.
Cobri-me de um manto pesado e pensei em você para não tornar minhas palavras ordinárias,
Mas busquei a finitude expressa no que posso alcançar agora.
Tornamo-nos tão parecidos uns aos outros (buscamos isso), para amenizar o ódio que sentimos entre nós.
Não havia lágrima, mas dor - espasmo sem cura.
Uma voz sentida sem a visão de palmos a frente.
A geradora de tudo presa em seu ofício mínimo. Ele que nunca chega. Eu inútil, ingrávido, insoluto.
Ego - ísmos!!!
Apelei para as palavras, em cujo caminho me perco, trazendo aos que as leem conforto e açoite.
O trabalho de um poeta é domar esse bicho selvagem: por mais que se tente, que se levante, que se desprenda, está de volta ao mesmo circo. Torna-se resultado de um aplauso do desprezo.
A vida se nos apresenta com a cor que ela bem entende. Por mais hábil que sejas, seus pincéis não a alcançarão.
Com a miséria em um dos bolsos e a permissão no outro, andamos o dia-a-dia, procurando o próximo a quem bofetearemos por um menear dos lábios a sorrir em troca.
Condenamo-nos a uma vida intermediária:
Amargura, livra-me disso.
Que tempo é esse, deuses mortos, em que tentamos nos agarrar à salvação orada, entretanto nossas unhas são demais frágeis e nos deixam seguir caindo?
Que relação é essa que te faz gozar tanto sobre o meu sangue?
Doce palavra,
Vem à luz
Estou pronto para pari-la,
Ainda que, para isso, deixas a minha existência com sequelas pela falta da substância voraz que nos torna torpes e iguais.
Amarga é a vida.
Adriano Gustavo di Andrade
sábado, 28 de agosto de 2010
Rebelião do poeta - 28/08/2010
Na idade da razão, o poeta se perde em dúvidas.
Olha para todos os que vieram ao seu encontro e, feito Blimunda, enxerga suas mazelas internas.
A cabeça me doi agora, mas até essa dor se desfarça. Não se revela para mim.
Eu tive coragem de devorá-lo, enquanto seus olhos brilhavam para cegar o meu amor.
Com perícia militar, barrei suas intenções e reprimi a mensagem que se esforçava por me fazer engolir. Ao final da volúpia, você já me era partidário e seguiria conforme minha guia.
E na festa, fiquei tão sozinho... Eram muito confusas as cores, os sabores, os cheiros, as milhares de formas que as pessoas encontram para elevar a sua verdadeira intenção.
Mas não me rendo.
Apesar de ter estendido minhas mãos, de ter liberado alguns segredos e de ter dito a verdade, o que eles buscam é o lixo. Daqui não consigo passar.
Vem-me a tristeza e se instala como fazem as ervas hospedeiras. Eles repetem o comportamento das ervas. Eu, o das árvores. Contudo, minha seiva é hiperalergênica - logo se desprendem.
Do sabor intenso e distante desse mel, você já provou, bebeu, embriagou-se e não reservou nada. A matéria orgânica ficou desorganizada de tal maneira que retornou às fileiras que tanto tentei te preservar.
E eles dizem que me amam. Vêm e me tentam fazer de amálgama ao seu caráter cariado. Tentam me impressionar com uma linguagem estranha e patética.
E eu sorrio e choro. O desespero me toma conta, porque um de nós se trancou e lançou as chaves no domínio de um conhecimento que não posso alcançar.
Chegou o tempo em que tento te falar palavras simples e próprias ao que você quer ouvir, mas meu silêncio pesa tanto que prefiro te declarar na mais fina sintonia o que não pode ser esquecido nos arquivos da nossa solidão...
Não mexa no meu futuro.
Adriano Gustavo di Andrade
Olha para todos os que vieram ao seu encontro e, feito Blimunda, enxerga suas mazelas internas.
A cabeça me doi agora, mas até essa dor se desfarça. Não se revela para mim.
Eu tive coragem de devorá-lo, enquanto seus olhos brilhavam para cegar o meu amor.
Com perícia militar, barrei suas intenções e reprimi a mensagem que se esforçava por me fazer engolir. Ao final da volúpia, você já me era partidário e seguiria conforme minha guia.
E na festa, fiquei tão sozinho... Eram muito confusas as cores, os sabores, os cheiros, as milhares de formas que as pessoas encontram para elevar a sua verdadeira intenção.
Mas não me rendo.
Apesar de ter estendido minhas mãos, de ter liberado alguns segredos e de ter dito a verdade, o que eles buscam é o lixo. Daqui não consigo passar.
Vem-me a tristeza e se instala como fazem as ervas hospedeiras. Eles repetem o comportamento das ervas. Eu, o das árvores. Contudo, minha seiva é hiperalergênica - logo se desprendem.
Do sabor intenso e distante desse mel, você já provou, bebeu, embriagou-se e não reservou nada. A matéria orgânica ficou desorganizada de tal maneira que retornou às fileiras que tanto tentei te preservar.
E eles dizem que me amam. Vêm e me tentam fazer de amálgama ao seu caráter cariado. Tentam me impressionar com uma linguagem estranha e patética.
E eu sorrio e choro. O desespero me toma conta, porque um de nós se trancou e lançou as chaves no domínio de um conhecimento que não posso alcançar.
Chegou o tempo em que tento te falar palavras simples e próprias ao que você quer ouvir, mas meu silêncio pesa tanto que prefiro te declarar na mais fina sintonia o que não pode ser esquecido nos arquivos da nossa solidão...
Não mexa no meu futuro.
Adriano Gustavo di Andrade
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