sábado, 28 de agosto de 2010

Rebelião do poeta - 28/08/2010

Na idade da razão, o poeta se perde em dúvidas.

Olha para todos os que vieram ao seu encontro e, feito Blimunda, enxerga suas mazelas internas.

A cabeça me doi agora, mas até essa dor se desfarça. Não se revela para mim.

Eu tive coragem de devorá-lo, enquanto seus olhos brilhavam para cegar o meu amor.
Com perícia militar, barrei suas intenções e reprimi a mensagem que se esforçava por me fazer engolir. Ao final da volúpia, você já me era partidário e seguiria conforme minha guia.

E na festa, fiquei tão sozinho... Eram muito confusas as cores, os sabores, os cheiros, as milhares de formas que as pessoas encontram para elevar a sua verdadeira intenção.

Mas não me rendo.

Apesar de ter estendido minhas mãos, de ter liberado alguns segredos e de ter dito a verdade, o que eles buscam é o lixo. Daqui não consigo passar.

Vem-me a tristeza e se instala como fazem as ervas hospedeiras. Eles repetem o comportamento das ervas. Eu, o das árvores. Contudo, minha seiva é hiperalergênica - logo se desprendem.

Do sabor intenso e distante desse mel, você já provou, bebeu, embriagou-se e não reservou nada. A matéria orgânica ficou desorganizada de tal maneira que retornou às fileiras que tanto tentei te preservar.

E eles dizem que me amam. Vêm e me tentam fazer de amálgama ao seu caráter cariado. Tentam me impressionar com uma linguagem estranha e patética.

E eu sorrio e choro. O desespero me toma conta, porque um de nós se trancou e lançou as chaves no domínio de um conhecimento que não posso alcançar.

Chegou o tempo em que tento te falar palavras simples e próprias ao que você quer ouvir, mas meu silêncio pesa tanto que prefiro te declarar na mais fina sintonia o que não pode ser esquecido nos arquivos da nossa solidão...

Não mexa no meu futuro.

Adriano Gustavo di Andrade

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