quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Lamento - 19/11/09

Chorei tanto que pensei nunca mais entender as razões do simples.

Na verdade, escorreram três ou quatro lágrimas,

Contudo, elas tinham percorrido caminhos tão vastos do meu ser
Que foi horrível pari-las, entregando ao mundo, já farto disso
Uma ponta mais de dor.

Entreguei-me.

Colhi as pétalas da rosa com a qual surrou o meu futuro
Juntei as folhas do poema com o qual anulou minha ânima
Tentei recompor os cacos do telhado da casa, onde me escondia da solidão
E,
Agonizando, gemendo, tentei pairar sobre as pernas que você me tirou, quando furtou-me a ilusão de viver ao seu lado.

Mas, infelizmente, sobrou-me o ar - a respiração!
Por que?
Porque nossas almas estavam próximas, unidas,
Apesar desse intruso que persiste sem cura.
Enquanto nossos corpos estavam separados por uma atmosfera PRÁTICA
E,
Por isso,
Intransponível e indissolúvel.

Adriano Gustavo di Andrade

Lamento - 19/11/09

Dna Onesta - 16/11/09

Sempre pairava uma alegria, quando junto com o aroma daquele delicioso café, podíamos ver o sorriso de Dona Onesta.

O ritual era sempre o mesmo. Dna Onesta acordava, passava alguns minutos no banheiro, sentada, pensando em sua vida de quatro paredes. Depois, colocava água pra ferver e preparava o tal café.

- Agora sim, vamos começar o dia! Exclamava consigo e com as plantas de sua cozinha.

Ao longo do dia, debruçada em sua janela - sempre aberta e dirigida pra rua - Dona Onesta cumprimentava a todos. Conhecia todos.

Um ou outro entrava, matava alguns minutos do dia e paria outros de prosa e, suspirando, tomava do café social. Assim seguia o resto do dia... políticos, vizinhos, peões, fofoqueiras e madames. Unanememente, o café era apreciado e compunha o ir e vir dos passantes.

Certo dia, porém, Dona Onesta resmungava incorfomada, chorava, sofria como se alguem tivesse partido.

Indaguei. - O que houve Dona Onesta? E não obtive resposta.

Dia depois e outro e mais outro... durante meses, trancou-se em casa. A janela do mundo de seu quarto cerrada. O bairro atônito. Os corpos passavam, mas os pescoços e olhares eram todos voltados para a casa de Dona Onesta.

Não havia mais odor. Não havia mais música nem seu sorriso.

Mais tarde, contaram-me:

- Dona Onesta não suportou acordar num dia e ver que restava café do dia anterior em seu bule. Pesava-lhe o fato de ter perdido uma chance de convicência proporcionada por sua bebida mística e coletiva.

Vai-se entender!!!


Adriano Gustavo di Andrade

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Soneto inebriado 10/11/2009

Beijei-lhe com tal ânsia e sede,
Que te fiz acreditar no amor fluido em minha saliva.
Esta sorvida por ti, como o antídoto ao que te condenava à solidão,
Tornou-o cativo dessa minha promessa carnal desesperada.

Cada canto do seu corpo conheceu meu tato,
Fui onde tu desejavas tanto, mas nenhum explorador se atrevia,
Ultrapassei a fronteira que separava teu corpo de tua alma e,
Por recompensa, recebi seu gozo e o desmaio da satisfação noturna e exausta.

Depois, você me sorriu
E eu ébrio, jurei-lhe amor mais que eterno:
Ofereci-lhe o amor daquele exato momento e, por isso, verdadeiro e único.

O ilimitado desse amor em mim, acontece agora,
Quando termino em palavras jamais alcançadas,
O que iniciei, enquanto sofri de amor por ti, no leito do amor inebriado.

Adriano Gustavo di Andrade

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Você é intermediário 05/11/09

Encontrei suas palavras esquecidas no
fundo de um armário de um frio escritório.

Tentei resgatá-las, mas não valeria o esforço.
Abandonei-as mortas, já que poderiam ressucitar algo o que não desejo.

Eram sua tentativa de redenção?
Eram a busca atormentada da manutenção de seu desvio?

Você sempre me foi intermediário.

Sempre esteve entre o sim e o não
o antes e o depois
o já e o nunca
a decisão e a desistência
o imaginado e o efetivo.

Esta sua prática deriva do pensamento de que,
assim,
Não encanta nem desencanta demais,
Embora queira estar entre os caminhos de todos.

Contaminou-me com isso. Sofro!

E, enquanto intermedeio o que já é fragmentado,
Imaculo-me na defesa de um escaravelho urbano e de luz intensa...

Tão intermediário foi que me matou e não teve a coragem de permanecer sozinho.
Matou-se em seguida, deixando apenas como satisfação aos que nos amavam
O marcador de páginas onde sua vida fora escrita.


Adriano Gustavo di Andrade