sábado, 18 de julho de 2009

UM favor 18/07/09

Passava de meia noite, quando minha mãe abriu a porta de nosso apartamento.
A campainha já tinha tocado diversas vezes, em poucos segundos. Ela, sem entender, precipitou-se a atender.
Era nosso vizinho do 4° andar. O rapaz, nervoso e com vergonha, tentou gesticular o seu pedido. No entanto, a comunicação humana está vazia: não há sinais, sons ou palavras que consigam remendar as lacunas criadas entre o nosso espírito.
Minha mãe fez sinal de que iria chamar algum vizinho. O rapaz, angustiado, virou as costas, quando minha mãe o impediu e, com suas mãos e lábios (débeis ao que se propunha) tentou dizer-lhe se conseguia escrever o que precisava.
Já na cozinha, um tanto trêmulo e com os olhos perdidos, pegou a caneta e um papel, onde escreveu:
"Por favor, um pão"
Minha mãe, sem palavras - estas seriam inúteis - abriu o armário e, mecanicamente, entregou-lhe o que tinha sido pedido.

Fundo de cena I:
Esse rapaz tem deficiência auditiva, potanto não fala nem escuta. Sua família viajou, deixando-o sozinho, não por irresponsabilidade - talvez, não posso julgar esse ponto - mas porque ele trabalha e não estava em época de férias.
Acredito que minha casa foi indicada por sua mãe, caso ele precisasse de algo. Assim, foi lá que ele foi diante dessa necessidade básica a que fomos condenados...
Imaginem as necessidades dele!

Fundo de cena II:
Eu não tinha sentido vontade de escrever sobre esse tema, até que hoje, enquanto realizava minhas orãções, abria a gaveta do meu oratório e encontri o papel, onde ele tinha feito sua súplica.
Senti-me, profundamente comovido e mais uma cônscio de nossa realidade:
Sinto pena da raça humana.

Adriano Gustavo di Andrade

Um comentário:

merry disse...

Gus,
É triste mesmo.

Saudades de ti.