domingo, 14 de março de 2010

Exercitando uma das condições a que fomos lançados, fui, sozinho, ao cinema. Assisti ao filme "Preciosa". Uma verdadeira história de todos nós que, em algum momento, somos massacrados por um sistema padronizador, em cuja política maior a exclusão é a palavra de ordem.

A condição a qual me refiro é a solidão.

Sim, tentamos fingir que não. Que há pessoas demais ao nosso redor, que os "amigos" estão a nossa espera e desejosos por nos encontrar, que a família, que o namorado, que fulano... etc.

O fato é que estamos sós.

E não me venha com o ideário cristão de que Deus está conosco, porque não é disso que estou falando. Se fosse falar disso, trataria logo de abrir uma incisão no peito do "crente", que amarga, em silêncio, a solidão que, também, demasiadamante sofre.

Sofre? Não entendo dessa forma. Entendo o ser e não o estar.

Somos sozinhos. E não há dor ou prazer que se divida, senão na superfície.

O filme é magnífico. Não há como contestar isso. Senti, mais uma vez, vergonha da minha condição de humano e por fazer parte dessa raça tão racional, que refinadamente transforma as suas vidas e a de terceiros em infernos propagados pelos inconsciente coletivo.

A menina "Preciosa", talvez tenha de precioso, unicamente o prazer que deu ao seu pai que a violentou desde a infância. Talvez tenha de preciosa a sua figura horrenda e gorda, a qual as pessoas se dirigem com sarcasmo e sadismo. Talvez, ainda, tenha de precioso o seu coração, pois, mesmo no meio de uma vida desgraçada, ainda teve o ímpeto de viver.

Preciosa nos encanta com o olhar já que sua voz foi roubada por fatores que ficam por nossa conta entender. E sem voz é como sem ar. Digo, é como inexistir sem a expressão do que comunica. Ela quase se torna um objeto desnecessário e obtuso. Seus olhos a salvam.

Eu, na sala do cinema quase vazia, refletia sobre estar só. Na metade da película, simplesmente dei minha mão à garota, irmanando-me em sua desgraça, abandonando as pretensões de tesão, de prazer, de tranquilidade e bem estar e retornei ao meu EU, cuja soma é feita dessa substância que recusamos, encerrando-a no fundo do aquário, mas que, queiramos ou não, nos resulta.

Adriano Gustavo di Andrade

Um comentário:

merry disse...

É Gus como diria os Engenheiros do Hawaii na música Infinita Highway:
"...Estamos sós e nenhum de nós
Sabe exatamente onde vai parar..."

bjs