quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013


Texto a 4 mãos II


Meu coração de tão crente, tornou-se ateu.

Muitas crenças e profecias foram sendo depostas em meu caminho,
Pastores, monges, clérigos, videntes...
Uma urbe se levantando e caindo – caos.

Uma sede incessante,
Uma fome voraz,
Um frio impugnável,
Um calor sem fonte,
Um ...

As palavras retiraram-se, elegantemente, como sempre, deixando-me nu para lutar com nada além do meu corpo. Consoante a esse abandono, apresentaram-se contratos vários para que eu me coligasse a algo – corrupto ou leal.

E, diante de tantas cores, fui me perdendo nos sons que abrigavam nada além de um ruído profundo e vago. E fui enlouquecendo, apesar do aspecto lúcido do andar altivo no meio da multidão.

Já exausto, encontro você!

Mas isso já era conhecido. O segredo vazou, apesar de nossos esforços de intimidade selada.

Com sua chegada, o que de fusco sombreou  minha vida sentimental, foi banido por um brilho evidente em nosso abraço. A partir desse evento, surgiram pretéritos sobrepostos, tamanha a distância da angústia causada por sua ausência.

Meu amor, vês o quanto exulta o meu coração e as palavras voltam a visitar esse meu intento de amar?

Vês que canto, apesar de qualquer mudez. Que me ouves, apesar dos estímulos todos?

120 dias + 2 pessoas que se amam = sorte e felicidade. É com fórmula que se tenta explicar o sentir do amor? Não. É com o dia-a-dia.

E isso que cresce, tremendamente, sem fenômeno que possa barrar a seta ascendente, é a amálgama de nosso querer estar juntos e certos.

Estamos salvos, olhamos para o mesmo horizonte e, quando necessário, fazemos o papel de Juno: tu olhas pra frente e eu para trás. Destarte, garantimos que não sobre nada para trás e que, com tal repertório, sigamos construindo o nosso futuro.

Meu coração de tão ateu, tornou-se crente!

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Texto a quatro mãos I


Texto a quatro mãos I

Apesar de tão pouca evidência tátil
Meu corpo e o teu uniram-se: dois seres levados pelo instinto e pela necessidade de andarem juntos.

Eu tinha uma imagem vaga da sua existência e, talvez, andava pelos lugares a te procurar
Nos mangues, nas rochas, nos Alpes, nas profundezas habitadas por milhares tentei encontrar o que você é. Mas, no fim de tudo e apesar de alguns bálsamos e varandas de descanso, sempre o fogo voltava a queimar sem unguento suficiente para conter tal dor.

A gentileza e o receio conduziram-nos ao futuro.

Junto contigo, numa travessia determinada pelo cotidiano, seguimos confiantes: nossos olhos,  indicando o caminho a seguir. Nossos peitos, quando se inclinam ao encontro mútuo se dão conta de que protegem e são protegidos.

E quando todas as seivas, perfumes, sabores vêm à tona são nossas mãos que se seguram num frêmito de novidade não experimentada e infinita.

A quatro mãos se processa a escrita desse texto:
Duas que exercem o trabalho produtor da linguagem
outras duas que servem de substância animadora de tal produto.

Ele quer morar dentro de mim
Eu quero ser sua morada e, quando farto de mim mesmo, quero migrar-me para o seu porto, de onde partem as declarações de amor e as cláusulas de um contrato perpétuo, porque humano.

Nem em sonho se imaginam tão doces beijos a despertar o sono.

Tampouco se esperam as doces palavras, os suspiros, o corpo ardente e um SEGREDO.

Não saberão dos detalhes de uma história íntima contada por um dueto.
Não saberão, se quer, das reações sentidas por esses corpos que reaprendem a amar.

Talvez saberão dos detalhes ordinários comuns a qualquer rotina.

Em nosso ninho,

Seremos um pássaro forte e altaneiro, cujas asas se unem em força e vigor para produzir o mais belo voo.

domingo, 13 de março de 2011

Das coisas feitas pra nos enganar, a retórica é a mais sintomática, a que mais penetra.
Alguem traz, em seu repertório, uma série de arestas, umas lacunas a serem preechidas. E essa pessoa passa a visa toda, ainda que não saiba conscientemente, em busca do grande operário que executará a obra de lhe preencher o que falta.
Daí temos a origem das relações doentes que conhecemos, atualmente.
Mais uma vez, não estou descobrindo nada nem é novidade sobre o que escrevo, no entanto, a repetição de tal evento é tamanho, que só tratando a respeito me sinto um pouco melhor.
Eu também tenho me enveredado em uma canção plena de notas a me seduzir. E eu tenho me deixado enlevar, tal uma criança diante de um brinquedo brilhante e multicolorido.
Eu tento dizer não, mas confesso que, não fossem esses quilômetros todos a nos separar, já estaria em sua armadilha. Pronto para pagar as consequências.
Essa retórica, essas lacunas, as malditas buscas...
Onde está a origem da palavra que nomeia o que sentimos? E onde está o antídoto que nos libertará da condição de sermos unicamente humanos?

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Poema para te matar de amor 22/02/2011

Perdido numa sala repleta de palavras
Estáticas, latentes, pulsantes, armadas
Exilei-me de você!

Veneno atroz e peçonhento
Sulco de uma matéria clandestina
Tráfico de um sentir vago e plenificado,

Entrei pela porta dos fundos de sua casa, quando já não mais me cabia espaço para estrear.
Executei o melhor dos meus números,
Esforcei-me, ao custo de tornar-me zumbi,
Roubei-lhe
Mordi-lhe

Em troca, nada.

Havia anúncios a cada 15 minutos na programação televisiva – no horário nobre:
Tenho 33 anos, 1.84 m, 80Kg, graduado, gosto de conversar...

Na esquina, um açougue exibia suas peças
Na fármácia, além do amor, coragem, sexo, a vergonha e o sono eram vendidos
No casa de música, espantos e solidão.

E rimos todos e dançamos tanto que não sobrou tempo para a nossa verdade.

Eu te amo, intensamente
Como a mãe que chora a morte do filho
Como um cão que não consegue controlar o cio
Como o brilho da pérola após tanta dor.

Eu queria expor esse amor, mas não tenho ferramentas para isso.

Fui deportado. O meu sujeito foi elidido e as chuvas apagaram a memórias dos signos que compunham seu nome.

E nem as nuvens, tampouco os besouros continuaram o seu trabalho nesse aterro de flores duras.

Espera-se que tu tenhas a decência de se retirar do mundo, uma vez que carregas esse poder ignóbil
Um poder que dizimou todas as civilizações antigas e, por isso, navegamos sobre as navalhas do que nos restou.

Mas para onde vais?

Sua morada não está no infinito.
Ela está aqui comigo,

Como um anjo apocalítico – em poder, mito e glória o protegerei nesses meus braços,
em cuja ordem não há outra determinação mental senão a de te amar.

Celebrarei-te, inefável, arcádico e sagrado Amor

Vivamos – ainda que seja morte - assim: Sob o poder do amor

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

comer rezar amar - 27-10-2010

Dos três verbos que compõem o titulo do romance best seller adaptado para o cinema, o de mais originalidade básica, de caráter inicial - pelo menos no plano carnal - é COMER. Sim, somos alimentados desde a gestação e passamos a comer até os últimos dias.
Certo dia senti uma tristeza inexplicável ao ver centenas de pessoas num supermercado, lotando os seus carrinhos (não vou entrar no mérito do saudável ou não), pagando valores altíssimos ou nem tanto assim pra pagar. Enfim, é uma condenação. Mas, falemos do prazer, na obra, o que é levado em conta é o prazer das delícias e das sensações que as ervas, temperos, especiarias causam ao nosso corpo após agirem no sistema límbico.
Seguindo a sequencia hierárquica, vem rezar. Engana-se quem pensa que amar é prioritário. Não arredo minha convicção de que o amor é aprendido e, para tanto, precisa passar pelo aprendizado do espírito, da fé. Pois bem. Rezar: saí do cinema com uma vontade enorme de recitar mantras. Sou de formação budista e, portanto, cultivo a parte espiritual, de um alcance que vaza o infringido terreno. Gosto de mais. Algo além das palavras, mas dentro delas ao mesmo tempo com sua substância e valor onírico. Pelo verbo quero atingir as esferas do que Deus representa e nos foi ensinado, mas com um adendo, sempre o encontro em mim.
Amar. Amar é espetáculo e mistura, mas também é poesia, analgésico e ilusão necessária. Amo também. Sempre iremos amar. Ou, ao menos nomear o caos de um determinado sentir, de amor.
Essas impressões me vieram à superfície do pensamento, quando deixei a sala de projeção, onde havia me deliciado com a atuação deliciosa de J. Roberts; do bonito e sensível brasileiro vivido por J. Barden; pelas canções brasileiras de Bebel Gilberto (povo brasileiro pouco conhece) e João Gilberto; dos cenários encantadores da Itália; do caos necessário na Índia e, fechando com a beleza natural que nos subjulga em Bali.
Obra de arte completa e cíclica. Não consigo ficar incólume a isso.

Adriano Gustavo di Andrade

domingo, 10 de outubro de 2010

Escrevo porque minhas palavras assexuadas te excitam mais do que minha voz, meu afago, meu beijo, meu falo...
Escrevo, ainda, por vaidade pura.
E porque sei que, estando preso por esses verbos, será fácil possuir-te, quando sentir o vapor quente do meu hálito.
Escrevo, porque já não resta muita defesa nesse mundo
E pra não me tornar ainda mais cego, escravizo as palavras para me servirem de bússola nessa estrada indivisível sem direção.
Escrevo para que não haja ponto final. Que a vírgula seja o indicativo dessa insígnia que vou te deixar.
Está infeccionado.
A febre não cessa e, envolto em delírios, confundimos a medida de amar com a de não estarmos sós.
No meio dessa lacuna - lack - incluímos qualquer adereço.
Escrevo porque tu me fizeste calar e só essas palavras são capazes de me encher de glória e triunfar sobre a sua nescilidade.
Estou vivo. Sinto. Amanheço e desfarço!
Não admito que tu te envolvas nos resultados que a quiromante viu na ponta dos meus dedos. Antes, os tivesse visto nas marcas da minha língua já tão visitada.
Receio, agora, que me perdi.
A escrita, entre todos os seus perigos, tem o poder infinito do entorpecimento e da lucidez.
Escrevo, portanto, para praticar essas duas armas e abater-te como ave de rapina, mas te ofereço a fuga. Com isso tu te tornas ainda menor diante da minha audácia de prender-lhe quando bem entendo e de soltar-lhe por pura pena.
Lê, entra por esse labirinto de mil minotauros.
Orientados por Dionísio, farão com que você desfaleça de prazer.
Mas não se esqueça:
Escrevo, porque sei o modo com o qual se executa a sua leitura.

sábado, 25 de setembro de 2010

Corpo Vivo - 17/09/2010

Sexta-feira,
Meu corpo ainda sentia os efeitos das descargas de estress recebidos, durante o horário comercial.
Sozinho, entrei pela porta do SESC Pinheiros. Suas instalações impecáveis sempre me deixam satisfeitíssimo.
Fui à bilheteria, comprei meu ticket para assistir ao espetáculo "Corpo vivo" de Ivaldo Bertazzo - uma criação repleta de técnica, motivação e elegância.
Ingresso garantido - bem à frente - subi para o piso superior, onde está locada a comedoria. Servi-me de uma salada deliciosa - alface crespa, presunto, berinjela, milho e mostarda com mel. Ainda não totalmente satisfeito, saboreei-me com um creme de cupuaçu e coco queimado. Finalizei com um café. Tudo servido com louças, talheres e detalhes respeitosos.
Por um momento, percebi que algumas pessoas me lançavam olhares de estranheza - não me interessou muito o por que, com exceção de uns dinamarqueses que estavam, às dezenas, visitando uma instalação no hall principal. Lindos aliás.
Na mesma oportunidade, recebi, cordialmente servido por um rapaz "in black" uma taça de espumante. Um burburinho estelar, por causa de uma leitura que Chico Buarque faria, em instantes, de textos de Saramago.
Recebo um sms: " voce está onde não lhe poderia ser melhor. Em meio à arte e a cultura". Um amigo feliz por mim.
Na entrada da sala de espetáculo, um aroma especial, liberado por uma máquina vaporizadora no palco, compunha a recepção.
Em resumo: figurinos, movimentos, textos, músicas, conjunto. O presente estava dado.
Revelei a um amigo o resultado do meu sentir, após o epetáculo: ÊXTASE...
Fui embora, muito rapidamente, pois já passava das 23:00. Mas, não antes de capturar uma foto de uma pedra oval iluminada. Lembrou-me "O ovo e a galinha".
A noite estava completa e eu senti meu corpo ainda mais vivo.

Adriano Gustavo di Andrade