quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Cotidiano 08/10/2008

Abri um canal de observação cujo espectro pudesse alcançar alguma íntima distração.
Sorrateiramente, notei que uma mulher andava com seu guarda-chuva cor-de-rosa, sob nenhuma chuva.
Pronto. Era ali mesmo que eu debruçaria minha análise.
Em busca de uma proteção que nos falta, vivemos a buscar abrigos. Não há problemas nisto, uma vez que assim fomos adestrados.
Levantamos paredes altas, grades resistentes, ruas largas, alarmes, cara fechada, armas, escudos etc. Estes recursos desfilam orgulhosos por ocuparem um lugar mais importante que o beijo e o abraço. Esta prática poderia nos comprometer demais.
O risco acontece, quando não temos os abrigos que são obrigatórios construirmos com urgência, já que as tempestades, quando surgem, não mandam recados. É nestes momentos que caímos em profunda reflexão, tentando a recuperação tardia.
Refiro-me às estruturas que não deveríamos sentir desconforto ao ter de ativá-las. A coragem, a dignidade, o caráter, a sabedoria, a auto-estima são alguns desses fatores aos quais me refiro, contudo, evidente que esta lista poderia continuar livremente. Sim, porque nisto, há, também, o arbitrário.
Caímos no campo das escolhas...
Fulano preferiu se preparar, tomando “Biotônico”. Pretendeu, com isso, ficar forte, gostoso e admirado em sua figura estética e em sua potência sexual.
Sicrano adulou o maior contingente possível. Entregou-se em sorrisos, elogios, conversas vazias e passa-tempos. Tinha ouvido falar em “Networking”.
Beltrano trabalhou, estudou, rezou, ajudou aos outros. Pensou consigo que isto era viver.
Acima de nós, alguém ri disso tudo. Por mais que tente, não consegue concluir o porquê destas buscas.
Nós também não vamos entender, embora continuemos a buscar, pois é mandatório situar-se, ainda que seja sob um guarda-chuva, em dia de Sol.
Adriano Gustavo di Andrade

2 comentários:

merry disse...

Adorooooooo! Muito bom esse texto, quantas vezes nos fechamos? Muitas e na maioria das vezes dizemos a nós mesmos que não, esta tudo bem, eu não faço tipo, só os outros fazem, afinal é mais fácil apontar do que ser apontado.

merry disse...

Gus, reli o texto que pra mim soa como um "Se Toca"!
beeeeijo