sexta-feira, 10 de outubro de 2008

A Palavra 06/2008

A Palavra - 06/2008

Tomou-se cuidado para evitar a queda desta palavra
Num ballet milimetrado,
O corpo de baile sustentava, com dor,
O peso que com ela vinha .

Ela, a palavra, deriva demais,
Ainda mais para nós, pobres suplicadores de sua cor completa.

Tenta-se sustentar no ar, acima esta palavra,
No entanto, não se sabe o porquê
Imagina-se, apenas, que sua queda é mais grave do que a queda da pedra de Pessoa*
Pois que, se a segunda faz tremer a terra,
A primeira faz a existência perecer.

Já anciã e poderosa
Deusa de uma ilusão feroz
Obtusa e plena de direções fragmentadas.
Palavra,
Que és tu que me foges, estando debruçada sobre o meu colo?
A que tempo te remetes, quando somente a quero aqui.

E nós passamo-la de mão em mão
No seu olhar, ela brilha,
Em sua boca, ela freme
Em meu espírito, ela é.

Quer-se mantê-la viva,
Porque és nossa esperança.
Mais que um deus, participou da Criação,
Fez Dela, simples objetos alegóricos.

Quem aparece, é tu.
Quem fica, é tu.
E por que não vai embora?
Passa!

Acabaria tudo. Por isso a mantemos viva.
Ela, a Palavra.


* Fernando Pessoa (referência a seu poema – Menino Jesus).

Nenhum comentário: